sábado, 26 de novembro de 2011

A Carta


Saudações.  Goiânia, 26-11-2011

Ainda é primavera, o dia está nublado e triste. Eu também estou nublado, e triste sempre sou. Ando tão inquieto, é uma inquietação na alma. É como se eu fosse partir amanhã, mas uma viajem sem destino, também não quero partir. Mas quero sair pela cidade fria e molhada, em busca de mim. Tenho tido cada vez mais medo da solidão... Eu sei ser só, mais a solidão é assustadora... Não consigo voltar a escrever, meus personagens estão tão latentes, porém não consigo dar-lhes vida, mesmo sabendo que sou responsável por eles. Hoje me dei um livro de presente, ´ Fernando Sabino Clarice Lispector perto do coração ´, o que seria de minha vida se não fosse esses pequenos prazeres? Não posso fumar, e ando desconfiado que terei de beber menos, isso é terrível. Me nego estes prazeres não por medo da morte, mas por medo de sofrer dores físicas. Já sou tão triste e sozinho, quando estou doente fico em um estado lastimável, além da feiura que me é tão natural, fico 1000 vezes pior. Chove agora, a chuva é capaz de me fazer sofrer de tal forma, é como se ela me remetesse a um tempo já bastante ido e que me dói só de lembrar. Um pouco de este ser triste que me tornei é parte dos fantasmas que foram fazendo parte de minha encenação durante a peça que atuei até hoje, a qual foi sempre um drama, com uma pitada de terror. O João e o Henrique, estão vivendo dias tão belos de setembro que faz pena me intrometer.  Às vezes tenho inveja deles. Hoje uma amiga muito crente me disse que temos que perdoar o passado, penso que já perdoei, mais será que é fácil esquecer, os espancamentos, as dores físicas e moral, quantos xingamentos, humilhações por parte dos que tinham mãe, daqueles que se diziam os benfeitores... Não tinha com quem falar de minhas tristezas, angústias e sonhos... Termino com um trecho de uma carta de F. Sabino para Clarice ** “(...) Depois a gente fica triste, e quando se lembra que amanhã vai ser diferente, fica mais triste ainda. A gente podia ser assim, Clarice, viver apenas, aceitar o momento como essencial e nascer de novo entre dois cigarros, entre o brinquedo e o edifício, entre a palavra e a curva”...     

Com amor e saudades, João. 

*imagem livre de internet
**SABINo, Fernando. Record, 2011
***  O João do texto é personagem de um romance que escrevo e não biográfico

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Palavras






Poucas palavras, soltas sem sentido e nem inspiração
É da inspiração que nasce a poesia que antes é triste
Preciso juntar as palavras que deixei escapar
Catar, recolher, assim começo aprender a viver

Poucas palavras, soltas e com sentido
Preciso de inspiração para voltar amar,
Não posso juntar os amores que deixei escapar
Também não os catarei... Assim começo a morrer

Palavras recolhidas, que outrora se espalharam
Hoje elas retornam querem viver, buscam sentido
Encontram-me triste e sozinho, hoje ressuscito 

*Imagem pública de internet

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Veredas



O dia está frio ou esteve frio o dia inteiro. Já é crepúsculo. Ele já tem o dom de me deixar triste, hoje com esta brisa fria, abre as janelas de minha alma inundando de tristezas, tenho vontade de chorar, às vezes vem um pouquinho de lágrimas nos olhos, mas eu às contenho... Eu não queria ser assim, não queria de súbito sentir essa tristeza, essa solidão, sempre foi assim. Lembro-me dos tempos de outrora, lembro-me de minha meninice como já nessa época essa tristeza me acompanhava, e me fazia chorar escondido “por que homem não chora”, tento rememorar quando começou onde, a situação, mais não sei. Começo a chorar, há muito tempo não escorre lágrimas em meus olhos, pensei que elas já tinham me deixado, mais não, elas continuam aqui, e acompanha essa solidão que é só minha... Alguns amigos me dizem para procurar ajuda, mais ninguém pode me ajudar, nem eu. Estar frio o meu coração. Está frio o meu ethos. Vontade de não existir, de não ter que me deparar com estes momentos... Será o que me fez assim? Será que eu sou o culpado, se é que há culpa? Pior é que não acredito que alguém entenda isso, e me ame assim. ** “o amor jamais foi meu, se esfregou na minha vida e me deixou assim”. Toda a alegria ficou em algum lugar esquecido, não conseguir encontrar, naquela tarde, corri nas veredas enfeitas de verdes, mas não as encontrava, quando mais procurava, mais triste eu ficava, cadê as alegrias que foram semeadas nos campos para que eu as colhesse, as veredas só se balançavam com as brisas, nenhuma resposta e também nenhuma alegraia... Foi se o dia e veio a noite, naquela noite descobrir que não seria alegre e nem feliz, passei a noite toda vendo a lua, ela cortou o céu de lado a lado, e também meu coração,  quando se anunciava o dia uma leve brisa tocou-me o ser e dormir. 

*imagem livre de internet
** Tango de Nancy (Chico Buarque)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

É preciso morrer...


* "As flores do jardim de nossa casa morrem todas de saudades de você"

Era o que eu mais queria, era não mais chorar, não mais sentir saudades, não se lembrar, simplesmente não lembrar. Até da brisa que nos acariciava sou capaz de lembrar, sentir a mesma sensação... Mas a vida é lembrança e esquecimento, um dia te esquecerei por certo, constatar isso é doloroso na alma, isso é triste. Como esquecer alguém que se tanto amou? A lembrança do esquecimento também não é um ato de pensar no ser amado? Talvez seja. A saudade, esse sentimento que não conseguimos dar corpo, é uma companheira constante, saudades dos lugares, dos fins de tarde após o trabalho, saudades das músicas que regiam nosso amor, saudades da briga de quem pagaria a conta... Saudades é não saber o que fazer para me livrar da insônia de todas as noites. Esta morte também é muito dolorosa, saber que o ser amado agora ama outro ser, que ele não voltará, saiu, se foi... Não adianta olhar mais pela janela, não adianta deixar a porta aberta, ele não mais voltará, morreu para ti, embora aqueça outro coração. Hoje o que dói mais é o nunca mais... Nunca mais seus olhos, suas mãos, nunca mais seu andar pela casa, nunca mais a implicância por Bethânia, nunca mais... Nunca mais. É preciso sobreviver ou morrer. Uns dizem que o Tempo senhor de tudo vai cuidando de acalmar as dores deixadas pelas saudades dos dias em que juntos passamos. Quem sabe um outro amor brotará deste solo que jaz a muito tempo não recebe uma gota de água. Junto com o que morre estou morrendo, partirei também... É preciso morrer, "viver não".

*In Maria Bethânia, Diamante Verdadeiro.
**Imagem livre da internet

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

...



Hoje não têm lua
Hoje não têm brisa
Hoje não têm Fernando Pessoa
**Hoje não têm Maria Bethânia

Hoje nem chuva têm
Não têm calçadas para andar descalços
Não têm folhas secas
Nem amigos...

Hoje não têm teu sorriso, nem teus olhos
Hoje não tenho você
Você que és o sentido do meu viver...

*Esta poesia é dedica ao amigo Claudinei
** Desculpe meu amigo mais sempre haverá Bethânia
*** Iporá, carnaval de 2011

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Será que ela é triste?



Tenho ouvido muito Mônica Salmaso, tenho descoberto em sua voz uma tristeza que alimenta minha alma e solidão. Talvez o que mais consegue invadir minha solidão é a música, a voz de Mônica é capaz de penetrar meu ser e me envolver, dar vontade de ficar o dia inteiro ouvindo e bem quietinho de preferência no escuro. Hoje em especial ouvir uma música em sua voz, cantando essa canção Mônica consegue transmitir o drama de Beatriz que é tão meu... Alguém já parou para perceber o drama de Beatriz, “será que ela é triste?”, talvez seja ou talvez ela somente represente de fato um papel... A solidão desta menina me é tão familiar, tão próximo... Tenho passado dias tão tristes, saio com amigos, tento ser engraçado, fútil, mais nada disso sou eu... Por enquanto fico aqui contando os dias e me perdendo em horinhas de descuido... Quem sabe o sol volte a brilhar amanhã e eu serei outro ou pelo menos minha tristeza será suportável... Saudades... 

*imagem retirada de internet
**tinha tanta coisa para falar sobre Beatriz, talvez ainda fale





domingo, 6 de novembro de 2011

Esboço de uma poesia





Para que se ter alguém?
Para não se sentir uma ilha entre duas poltronas do teatro...
Para ter com quem falar após o espetáculo...
Para andar nas calçadas e os ombros se tocarem...
Para dividir a beleza de um dia de sol...
Para tomar banho de chuva...
Para andar sobre as folhas secas do outono...
Para tomar café...
Para suporta o silêncio um do outro...
Para gostarem de poças d´agua...
Para gostarem de viver e desgostar...
Para acreditar que a vida é bela mesmo não sendo...
Para se sentir vivo... 

* imagem de internet
** este esboço pode ser melhorado...