domingo, 3 de maio de 2015

Crônica de Aniversário




Quando criança acreditava que o mundo à medida que iria crescendo ele iria junto comigo, que tudo seria possível. Hoje percebo a meia aurora da vida, que o que é possível mesmo são os sonhos de infância, porque eles já cumprem seu papel no próprio nascedouro. Percebo e como uma tristeza que nosso mundo vai morrendo, pessoas partem para nunca mais voltar, e a cada partida você fica menor, o mundo fica menor, embora novas pessoas apareçam, mas elas não são capazes de segurar a derrocada da partida anterior. Ontem erámos seis. Hoje, sei pouco dos irmãos que dividiram a mesma choupana comigo, um morreu, outros soube que andam envolvidos com drogas, outros serão pais, e eu sigo talvez como um personagem de Sartre em Idade da Razão. Ouvi de um sábio que “morrer não dói”, dói e dói muito, a dor maior é de perceber-se morrendo, e que amanhã é uma possibilidade de não ser possibilidade. Talvez o último ato trágico não tenha importância como os anteriores... O que importa? Talvez não saiba responder, o que importa por enquanto que ainda tenho consciência para pensar isso, que a dor de saber que lá no Norte, muito longe daqui tenho homens amigos, que pelo fato de termos parado na mesma encruzilhada da vida, ali se fez poesia, filosofia, arte, e partimos seguindo o fluxo da morte, os positivos dirão, ´da vida´, não! Da morte mesmo. Os cristãos impôs à nossa cultura que nascemos para a vida, que o que importa mesmo é o paraíso, o céu a metafísica. Não! O que importa mesmo é isso, os humanos que cruzam nossas encruzilhadas, mesmo sabendo que elas estão fazendo parte de nossa morte... Amanhã beberemos meus anos, isso mesmo be-be-re-mos, como em um celebração Dionisíaca, logo em seguida partimos...   

*Imagem de arquivo próprio 
**Texto se devida correção ortográfica 

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