Eu estava com 07 anos, era o ano
de 1989, depois de uma longa estadia na cidade retornava a fazenda em companhia
de uma tia. Chegamos por volta das 17:30h, encontramos uma casa fria e escura,
algumas brasas na fornalha, com meu avô habitando aquele ethos. Era uma tarde calma e silenciosa, acabara de chover, os
cajueiros ainda molhados exalavam um cheiro tão familiar de mato e terra
molhada, ouvia-se no ar o canto de alguns pássaros... Diante daquela tarde eu
parei, pela a primeira vez eu via, tinha certeza que me via vendo. Foi a
primeira vez que me sentir sozinho, a primeira vez que experimentei aquela
solidão, que a tanto me fazia chorar e que faria parte de mim, que se
confundiria com o que eu seria dali por diante. Foi naquela tarde, fria e
triste de maio que me descobrir triste. Hoje vejo essa memória, muito nítida,
como uma tela imóvel diante de mim, e ela me faz chorar... Não escolhi ser
triste, como não escolhemos tantas coisas na vida, aquele dia me fez triste, é
por isso que hoje carrego nos olhos essa tristeza que alimenta minha alma e
minha poesia... Com o coração em pedaços vou dormir, com um laço vermelho a Iansã,
deixo-vos.
*imagem Agno Flávio https://www.facebook.com/photo.php?fbid=461747047176636&set=a.461747013843306.109541.100000240333834&type=1&theater
**Talvez volte a escrever sobre esse dia...
O oceano não escolhe suas marés, tampouco o céu desgosta do passar das nuvens. Inevitável são os intervalos e alternâncias que nos compõem, mas também nos rasgam. Somos um inevitável movimento de costura, do coração, da solidão, da poesia.
ResponderExcluirSeu comentário é uma poesia... muito obrigado por palavras tão lindas!!!
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